A tokenização de ativos deixou de ser tendência para se tornar realidade concreta na América Latina. Em abril de 2025, dois marcos importantes demonstram que a região está determinada a liderar a revolução dos ativos digitais no mundo: enquanto a Argentina lança o “Nuevo Régimen de Tokenización”, um dos frameworks mais completos já propostos na região, o Brasil avança ainda mais, aprovando a primeira tokenizadora a operar integralmente fora do sandbox regulatório.
Argentina aposta na inovação com estrutura robusta de tokenização
A Comissão Nacional de Valores da Argentina (CNV) publicou a Resolução Geral nº 1060, iniciando uma consulta pública para instituir um regime específico de tokenização de valores mobiliários. O objetivo é claro: criar um ambiente regulado que permita a representação digital de ativos como ações, debêntures, cotas de fundos e até certificados de CEDEARs, utilizando tecnologias de registro distribuído (TRD), como o blockchain.
A proposta argentina garante a equivalência funcional entre ativos digitais e seus equivalentes tradicionais, assegurando segurança, rastreabilidade e imutabilidade nas operações. A tokenização será permitida mesmo para ativos sem negociação em bolsa, e poderá ser conduzida por empresas especializadas, inclusive fora do ecossistema tradicional. A regulamentação também prevê um período de testes via sandbox regulatório de 1 ano, durante o qual as emissões continuarão válidas após o prazo, embora novas emissões só possam ocorrer com o fim do sandbox.
Para o presidente da CNV, Roberto E. Silva, a iniciativa coloca a Argentina na “vanguarda entre os países mais desenvolvidos”, consolidando o país como um polo de inovação no mercado de capitais regional.
Brasil consolida liderança e opera tokenização em mercado aberto
Se a Argentina avança com um plano ousado, o Brasil já opera em velocidade de cruzeiro. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou a BEE4 como a primeira tokenizadora do país autorizada a operar 100% no mercado tradicional, fora do sandbox. A empresa agora detém as licenças de Balcão Organizado e Central Depositária, o que a transforma também na primeira depositária digital com blockchain nativo no Brasil.
A BEE4 já prepara a expansão de suas operações para ativos de renda fixa e aguarda a regulamentação do Regime FÁCIL, iniciativa da CVM voltada para ampliar o acesso de PMEs ao mercado de capitais.
Além da BEE4, o Brasil ainda conta com uma série de empresas no setor de tokenização como a Agrotoken, AmFi, Liqi, Mobiup, PeerBr e várias outras.

Esse avanço é respaldado por um ambiente institucional amadurecido: em 2024, o Brasil movimentou R$ 1,3 bilhão em ativos tokenizados, com destaque para um crescimento de 300% nas ofertas de crowdfunding e mais de 5,8 milhões de pessoas negociando ativos digitais mensalmente, segundo a Receita Federal. O país conta ainda com um ecossistema robusto, com 66 plataformas de crowdfunding autorizadas e iniciativas como a Vórtx QR e estar, que juntas já movimentaram centenas de milhões de reais.
Brasil e Argentina: dois caminhos, um futuro tokenizado
Com abordagens complementares — o Brasil liderando pela prática, e a Argentina estruturando a base normativa —, os dois países apontam para um mesmo destino: a tokenização como pilar central da nova economia digital.
Enquanto o mundo ainda debate como transformar ativos físicos e financeiros em tokens, a América Latina já regula, executa e escala. Segundo a BCG, o mercado global de ativos tokenizados pode atingir US$ 16 trilhões até 2030 — e tudo indica que Brasil e Argentina não apenas participarão desse mercado, como disputarão o protagonismo na construção desse novo sistema financeiro global.