Fernando Freitas, superintendente sênior do Bradesco, abriu espaço para um debate crítico ao modelo econômico e à sustentabilidade da plataforma de tokenização do sistema financeiro brasileiro, o DREX, proposta pelo Banco Central. Durante um pronunciamento recente na Febraban Tech, o executivo enfatizou que a tecnologia distribuída traz questões ainda não esclarecidas sobre custos e ressarcimento, gerando dúvidas sobre o equilíbrio financeiro do projeto.
Mais dúvidas que certezas
“Eu saio com mais perguntas que respostas aqui“, afirmou Freitas, destacando que a preocupação com a sustentabilidade econômica do DREX precisa ser endereçada com seriedade desde o início. Segundo ele, a experiência com o Open Finance deixou uma lição clara sobre a necessidade de uma estrutura econômica justa e transparente, algo ainda pouco evidente no atual desenho do DREX.
Custo compartilhado ou injustiça econômica?
Freitas questiona particularmente a distribuição dos custos operacionais em uma rede compartilhada. “Se o Itaú fizer uma tokenização, por que o Bradesco teria que pagar por um custo gerado por algo que não estamos recebendo? Como será o ressarcimento justo em uma plataforma distribuída?”, argumentou o executivo.
Essa visão reforça um ponto sensível no mercado financeiro: garantir que todos os participantes da rede tenham benefícios claros e que não sejam onerados desproporcionalmente.
Satoshi Nakamoto resolveu esse problema, mas os bancos não
O problema dos bens públicos é um conceito conhecido na economia e ciência política, referindo-se â dificuldade em providenciar eficientemente bens que beneficiam a todos, independente de terem contribuído para o custo ou não.
Os bancos são rivais e o Bradesco realmente não iria querer arcar com os custos operacionais do Itau ou Nubank. No caso do bitcoin, que também é uma plataforma de tokenização (descentralizada), os participantes que mantém a rede ganha taxas por meio do esforço na mineração.
Uma maneira de resolver esse problema, seria o financiamento público. Mas é correto o governo financiar uma solução bancária que trará economias significativas para uma classe de pessoas e organizações extremamente ricas?
Oportunidades e desafios
Apesar dos questionamentos, Freitas reconhece o potencial inovador do DREX, apontando ativos regulados, como a duplicata escritural, como excelentes candidatos para tokenização e modernização por meio dessa tecnologia.
“É algo muito interessante, desde que o economics esteja muito claro desde o início, garantindo que no final o ecossistema se pague sem criar desequilíbrios”, enfatizou.
O Bradesco, assim como outras instituições, espera agora uma resposta do Banco Central que esclareça essas dúvidas, visando um modelo que seja sustentável, transparente e justo para todos os participantes do mercado.