Enquanto o mundo observa os sinais de desaceleração econômica, duas das maiores economias do continente — Estados Unidos e Brasil — enfrentam seus próprios dilemas fiscais. A dívida pública, que deveria ser uma ferramenta de desenvolvimento e estabilidade, parece se transformar em uma âncora para ambos os países. Mas até que ponto essas situações são comparáveis?
A Montanha de Dívidas dos EUA
Os Estados Unidos atingiram um nível de endividamento que muitos economistas classificam como estruturalmente insustentável. A relação dívida/PIB chegou a 123,01%, mais que o dobro dos 57,41% registrados no ano 2000 e quase quatro vezes mais que os 34,6% de 1980.

Boa parte desse rombo vem de gastos obrigatórios que pressionam o orçamento:
- US$ 1,69 trilhão em Medicare e Medicaid;
- US$ 1,52 trilhão para a Previdência Social (Social Security);
- E um dado ainda mais alarmante: US$ 1,03 trilhão só com o pagamento dos juros da dívida — valor que supera o orçamento militar de US$ 908 bilhões.
E o buraco é ainda mais fundo. Quando se somam as chamadas “obrigações não financiadas” — como aposentadorias futuras e benefícios prometidos —, o passivo real dos EUA salta para impressionantes US$ 104,5 trilhões. Somente os juros totais a serem pagos já somam US$ 5,47 trilhões, um ciclo que consome recursos de áreas estratégicas, desde infraestrutura até inovação.
Com um sistema baseado na expansão artificial da base monetária — hoje em mais de US$ 22 trilhões em circulação e US$ 1,68 trilhão de dólares futuros emitidos via Treasuries —, a economia americana parece trocar confiança real por dinheiro fictício.
Enquanto isso, a vida da população sente os efeitos dessa fragilidade:
37,4 milhões de norte-americanos vivem na pobreza;
O custo médio da saúde subiu para US$ 15.584 por ano (em 2000 era US$ 5.434);
A mensalidade média universitária foi de US$ 10.734 para US$ 27.539;
E o preço de uma casa média explodiu de US$ 164.777 para US$ 411.091.
E o Brasil? Uma Rota Menos Íngreme, Mas Preocupante
Se a situação dos EUA é uma espiral fiscal, o Brasil enfrenta uma tempestade mais moderada — porém persistente. Pela primeira vez na história, a Dívida Pública Federal (DPF) brasileira ultrapassou os R$ 7,6 trilhões (mais de US$2 trilhões), representando cerca de 74% do PIB nacional.

O avanço recente se explica principalmente pelos juros elevados. A Taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, faz com que o simples custo de carregar a dívida gere uma bola de neve. Só em abril de 2025, foram incorporados R$ 70,3 bilhões em juros.
Além disso, o Tesouro emitiu R$ 204,46 bilhões em novos títulos, sendo que boa parte foi para cobrir vencimentos prefixados no valor de R$ 163,04 bilhões. O perfil da dívida se desloca cada vez mais para papéis indexados à Selic, que já representam 47,3% da dívida interna, refletindo o apetite dos investidores por rentabilidade em um ambiente de juros altos.
O colchão de liquidez — a reserva de emergência do governo — subiu para R$ 904 bilhões, o maior nível desde agosto de 2024, capaz de cobrir 8,57 meses de vencimentos da dívida. O governo brasileiro rola sua dívida pública, pois na realidade ele não teria como arcar com os custos.
O Jogo dos Juros: O Inimigo Invisível
Tanto no Brasil quanto nos EUA, os juros se tornaram não apenas um custo, mas o maior entrave para o crescimento econômico sustentável. No caso americano, o juro sobre a dívida já consome mais que o orçamento militar. No Brasil, os juros moldam toda a composição dos títulos, encurtam prazos e reduzem a previsibilidade do Tesouro.
Para se ter uma idéia, com juros de 15% ao ano, investir em um título com esse valor dobraria seu dinheiro em 4 anos (96 meses).
A diferença? Enquanto os EUA podem imprimir dólares — a moeda de reserva global — para rolar suas dívidas, o Brasil não dispõe desse luxo. Aqui, qualquer descontrole rapidamente se traduz em inflação, fuga de capitais e deterioração cambial.
Dois Modelos, Um Mesmo Desafio
Se nos EUA o problema é uma economia baseada no excesso de dívida e na expansão monetária, no Brasil o nó está nos juros altos e na dificuldade de gerar crescimento sustentável sem recorrer a mais endividamento.
Ambos os países vivem, em escalas diferentes, um dilema que se resume a uma pergunta simples, mas sem resposta fácil: até quando é possível crescer sustentando-se em dívida?
O caminho que se desenha é incerto. Ajustes fiscais, reformas estruturais e mudanças no perfil dos gastos serão inevitáveis, seja no coração do capitalismo global ou na maior economia da América Latina.
Migração para o Bitcoin
A vantagem do bitcoin é a falta de risco político. Apesar dos desafios tecnológicos, o bitcoin tem uma emissão controlada de dinheiro, permitindo previsibilidade do dinheiro circulante.
Como resultado, também é possível ter certa previsibilidade do valor das coisas em bitcoin, visto que a inflação tem forte correlação com a base monetário – mostra estudo do Jornal de Economia e Finanças.