Produção de urânio nos EUA atinge maior nível desde 2018, impulsionada pela alta demanda energética de data centers e mineração de criptomoedas. No Brasil, megaprojeto no Ceará pode transformar o país em potência nuclear.
A produção de urânio nos Estados Unidos voltou a crescer em 2024 após anos de retração. Segundo dados da Agência de Informação de Energia (EIA), foram produzidas mais de 500 mil libras de concentrado de urânio — maior volume desde 2018. A recuperação se dá após quase uma década de queda acentuada, reflexo da valorização do mineral e da pressão por fontes energéticas estáveis para alimentar centros de dados e a mineração de criptomoedas como o Bitcoin.

Nos últimos anos, a mineração de Bitcoin tornou-se uma atividade cada vez mais dependente de energia elétrica, sendo a energia nuclear responsável por cerca de 9% do consumo energético global da atividade, de acordo com dados da indústria. Em contraste, fontes renováveis como solar e eólica representam apenas 2% e 5% do consumo, respectivamente.
A retomada da produção americana se concentrou em duas instalações de recuperação in-situ, localizadas no Texas e em Wyoming, além da reativação da White Mesa Mill, única usina de processamento de urânio ativa nos EUA. O movimento faz parte de uma estratégia mais ampla de fortalecimento da energia nuclear, incentivada por políticas como a Ordem Executiva “Unleashing American Energy”, assinada por Donald Trump.
Nova fronteira nuclear no Brasil: o caso de Santa Quitéria (CE)
Enquanto os Estados Unidos tentam reduzir sua dependência de importações — principalmente do Canadá e da Austrália —, o Brasil se prepara para dar um passo significativo no setor com a exploração da mina de Santa Quitéria, no sertão do Ceará. O projeto, conduzido por um consórcio entre a estatal INB (Indústrias Nucleares Brasileiras) e uma mineradora privada, prevê a extração de 2.300 toneladas de urânio por ano, além de 750 mil toneladas de fosfato, insumo crucial para a agricultura nacional.
A expectativa é que a mina, com quase um quilômetro de largura e 160 metros de profundidade, transforme o Brasil em um player relevante no cenário global, podendo multiplicar por 11 a produção atual e gerar até R$ 1 bilhão em receita anual, segundo a INB.
Além do potencial econômico, há promessas de geração de mais de 6 mil empregos diretos e indiretos e maior arrecadação de impostos para municípios locais. O urânio extraído poderá tornar o país autossuficiente para abastecer suas usinas nucleares e até exportar o excedente.
Desafios: uso da água e impacto ambiental
Apesar das promessas, o projeto de Santa Quitéria enfrenta resistência. Ambientalistas e comunidades locais alertam para o uso intensivo de água em uma das regiões mais secas do Brasil. O primeiro projeto foi negado pelo Ibama por prever o uso de 30% da vazão do açude Edson Queiroz. A nova proposta, com tecnologia aprimorada, reduziu essa demanda para 10%, mas as preocupações persistem.
“O empreendimento não pode inviabilizar a sobrevivência das populações locais”, disse Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama. Em Queimados, comunidade quilombola próxima, há temor de contaminação da água e do solo por radioatividade, o que já afeta a comercialização de produtos agrícolas da região.
Energia nuclear no centro da transição digital e energética
O avanço da inteligência artificial e o crescimento de megacentros de dados pressionam por soluções energéticas mais robustas. Gigantes como Amazon, Google e Meta anunciaram planos para utilizar energia nuclear em seus data centers, inclusive por meio de reatores modulares. Embora a construção de reatores demande de 6 a 10 anos, sua estabilidade e alta capacidade de geração tornam a energia nuclear uma alternativa estratégica.
Angra 3 e os entraves do setor no Brasil
No entanto, a expansão nuclear brasileira ainda esbarra em antigos obstáculos. A usina Angra 3, iniciada nos anos 1980, segue inacabada com apenas 65% das obras concluídas. O custo estimado para finalizá-la é de R$ 23 bilhões, e sua manutenção anual consome R$ 120 milhões. Além disso, o custo do megawatt gerado é alto: R$ 653, segundo o BNDES.
O futuro do projeto será decidido em breve pelo Conselho Nacional de Política Energética. A decisão poderá redefinir o papel da energia nuclear no Brasil – tanto como solução estratégica para a transição energética quanto como elemento-chave da nova economia digital.
Tese de bitcoiner famoso que aposta em Urânio
Parece que a tese do economista Fernando Ulrich, apostando no aumento de uso do Urânio, está virando realidade. O youtuber, economista e investidor Fernando Ulrich, aposta há anos no mercado de Urânio e energia nuclear.
Apesar do preço ainda não ter se recuperado das máximas de 2007, as notícias de Wall Street sobre a construção de novas usinas nucleares por big techs está animando a indústria e os investidores. Em 2024, a Microsoft pagou US$1,6 bilhão para reiniciar as operações de uma usina nuclear